sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Olá

Finalmente, lá nos encontrámos cara a cara, faz hoje uma semana. Desculpa não ter escrito nada antes. Até tinha planeado uma maratona de escrita nas duas noites em que a mãe ficou internada depois do parto, mas não foi bem assim que se passou. Vou tentar agora, mas não é fácil. Eu às vezes queixava-me de falta de tema na minha vida pacata, mas agora tenho uma espécie de engarrafamento de temas. Percebi isso a primeira vez que te ouvi chorar, mal te tiraram da mãe, porque tive uma emoção muito forte que não conseguiu ser processada toda de uma vez. Foi a primeira coisa que ouvi de ti, antes de te ver: a tua voz. Para aqueles médicos e enfermeiros, és só mais um bebé, mas para mim, aquele "UuuaAAAa cof cof Uaaaahhh" de ovelhinha bebé, pareceu-me a coisa mais comovente que já ouvi na vida. Esperámos um pouco e depois cortei-te eu mesmo o cordão umbilical (delayed cord clamping, quando leres este texto provavelmente os médicos de todos os hospitais já usam isto como padrão). Estavas a chorar e com o queixinho de baixo a tremer de frio e embrulharam-te muito bem contra a mãe, em cima do peito dela. A tua voz, o estares a chorar de frio e do esforço, enfim... chorei um pouco. Pensei que ia ficar impressionado com tudo aquilo, pelas histórias intermináveis de maridos que desatam a tremer ou a desmaiar ou ficam nervosos a gritar com toda gente, mas quero que saibas que com o pai não houve nada de mariquices. Tudo porque a mãe esteve sempre feliz e corajosa, o tempo todo, mesmo quando quase me partiu a mão com uma contracção mais forte (uma enfermeira disse "nunca se dá a mão a uma mãe em trabalho de parto" antes de dirigir as mãos da Plaft para a armação de ferro da cama especialmente desenhada para o efeito). Eu confesso que estava muito nervoso de manhã, quando fomos a caminho do hospital para a indução de parto. Muito, mesmo. Sabes aquela ansiedade que temos no dia da partida de avião às 7 ou 8 da manhã para um destino longínquo para passar férias? E temos as malas, e os passaportes e temos um misto de ansiedade por medo de perder o avião ou de esquecer alguma coisa em casa, mas ao mesmo tempo excitados com a aventura que se avizinha? Pois estávamos assim mas vezes mil! Antes de irmos, acordei às 6 da manhã e fui correr, só porque não sabia o que fazer. E fui buscar o carro para o deixar à porta e notei que todos aqueles momentos estavam a ficar registados na minha memória devido a um gigantesco marcador somático. Fiquei no carro a pensar nisso, que tudo naquele dia, das nuvens no estranho céu da aurora à camada de cinza no carro devido a um incêndio de véspera, me estava a ficar registado para sempre. Os nervos passaram quando entrámos no hospital e o processo se iniciou. Parecia tudo tão normal e divertido ao mesmo tempo! Ok, divertido até começarem as contracções a sério. Quando te vi, tive consciência do milagre que tu és. 3.7kg de perfeição, com imenso cabelo já e uma suspeita camada de pelo. Sabia que era o chamado lanugo, ou de outro modo teria desconfiado que a tua mãe era uma lobimulher e eu não sabia. Acho que simpatizaste comigo logo. Nós apaixonamo-nos por ti todos os dias mais um pouco. Às vezes sinto isso fisicamente, uma descarga eléctrica a vir do coração, como se falhasse uma batida. Há muitos homens que dizem "basta olhar para o filho para a primeira vez e mudamos para sempre". Eu não acho isso. Acho que é uma coisa na qual se vai entrando. Uma coisa são emoções primitivas como chorar baba ranho, essencialmente de descompressão dos nervos do parto, outra é isto. É claro que quando te ouvi e vi pela primeira vez derreti-me todo, mas isso foi só o início. Percebo agora porque recomendam que um homem não perca o comboio logo ao início e estabeleça depressa uma ligação muito forte com o bebé. Vamos viver muitas coisas juntos e gostar cada vez mais um do outro. Esta semana pareceu-me a mais intensa da minha vida. Todos os dias há qualquer coisa de novo. Por exemplo, ontem sorriste muito tempo para mim (e não, não eram espasmos) e ficaste acordada muito tempo a ginasticar. Tomar conta de ti tem sido relativamente fácil e muitíssimo fácil se tivermos em conta as histórias de terror que nos contaram e que lemos, por vezes até em livros... Só choras por motivos muito óbvios e que se resolvem em poucos minutos (às vezes segundos) e dormes muito bem. Agradece à mamã ela amamentar-te Para além dos benefícios invisíveis (sistema imunitário, nutrientes certos) há um benefício evidente que vejo entre ti e ela. Tu recebes duas coisas nesses momentos: leite e amor. E a tua mãe também fica com a moca da prolactina e ocitocina, para além de se sentir muito útil para ti, porque tu ficas mesmo mesmo mesmo irritada quando tens fome e ficas mesmo com uma moca muito engraçada depois de mamar - é preciso segurar-te na cabeça para arrotares. Por isso agradece-lhe, porque lhe doeu muito nos primeiros dias e de vez em quando ainda oiço "AIAIIIIaiamgmgghhh" quando fazes uma pega mais forte.

Tanta coisa para contar, mas agora não há muito tempo porque estás ali ao lado e acho que te ouvi. Desculpa o texto um pouco desconjuntado, tentarei fazer melhor depois.

Ah, foste muito corajosa no teste do pezinho e até agora tens adorado a condução do papá, adormeces ferrada assim que o carro arranca.

Deixo os nossos leitores com os teus pezinhos reais, depois do teste:




sexta-feira, 9 de agosto de 2013

3.... 2...

Sou eu que posto isto, mas foi a Plaft que ouviu a conversa e anotou no caderninho:

- Mas quando é que será que ela chega?
 - Shhh, fala mais baixo!
 - Trouxeram a faixa? 
- Qual faixa? 
- A faixa a dizer "Bem vinda, Julice da Floresta!" 
- Oh, és tão parvo! Não leste o comunicado no castanheiro grande?! O nome dela não vai ser esse!
 - Eu cá não vi faixa nenhuma. Por mim fazia-se era uma fogueirinha, com salsichas e marshmellows. As crianças gostam dessas coisas. 
- Shhhhhhhiu!!! Não se distraiam! Ela deve estar quase a chegar, aos vossos lugares!